quarta-feira, 15 de abril de 2009

Paul Morphy parte II



História Do Xadrez Moderno
Paul Morphy 2ª Parte


por Pedro Alcântara


Os europeus são congenitamente céticos quando ouvem dizer que um americano se destacou num terreno cultural. Para um inglês, acreditar que um jogador de xadrez americano pudesse derrotar seus mestres era o mesmo que admitir a possibilidade de um escritor americano produzir uma obra-prima literária. Quando chegou aos clubes londrinos a notícia da vitória de Morphy, o consenso geral foi que os adversários do jovem provavelmente estavam muito abaixo do padrão europeu de jogadores de torneio. Lowenthal, depois de regressar de sua visita aos Estados Unidos, escrevera no jornal The Era sobre o progresso do xadrez americano, mas os jogadores ingleses não levaram muito a sério o artigo. É interessante notar o que Lowenthal tinha a dizer: "O progresso feito pelo xadrez na América é quase, se não tanto, igual ao que se conseguiu na Inglaterra. Isso é mais do que se poderia esperar; pois é de supor-se que, num país relativamente novo, os homens sejam mais atarefados e mais inquietos do que numa nação velha e parece bem contra as probabilidades que na América um jogo exigindo sereno pensamento e estudo se tenha desenvolvido na mesma escala que divertimentos mais animados. Que isso acontece, porém, prova o fato de, em quase toda grande cidade de lá, existir um clube de xadrez e muitos desses clubes estarem em comunicação e jogarem partidas por correspondência. Outra prova é encontrada no número de jornais que dedicam regularmente uma parte de seu espaço ao xadrez e dão, como os jornais ingleses, partidas bem jogadas, com anotações, problemas e informações sobre xadrez... Devemos prestar certa atenção ao xadrez na América se pretendemos conservar verdes nossos louros.Os homens do Novo Mundo não estão habituados a ficar para trás quando se empenham em qualquer empreendimento e, se não tomarmos cuidado, é bem possível que o próximo campeão de xadrez venha do far west. Que isso ia em breve acontecer, efetivamente, era coisa que nem mesmo Lowenthal previa. Foi o primeiro a desafiar Morphy para um encontro. Jogaram doze partidas, das quais Morphy ganhou nove e perdeu três. Além da inquestionável superioridade demonstrada pelo resultado que obteve, e que Lowenthal reconheceu sem hesitação, Morphy pareceu levar uma estranha vantagem psicológica sobre seu adversário. Como disse um dos comentaristas: "Esse rapas de vinte e um anos, cinco pés e quatro polegadas de altura, de figura esguia e rosto como o de uma jovem adolescente, positivamente apavora os guerreiros do xadrez de nosso país - Narciso desafiando Titãs". The Era prestou a Morphy o seguinte tributo: na manchete: " FINAL DA GRANDE COMPETIÇÃO DE XADREZ" O encontro entre o Sr. Morphy e Herr Lowenthal chegou ao fim sábado, com o americano conquistando a vitória. Embora fosse universalmente observado que Herr Lowenthal jogou muito aquém de sua força habitual, deve-se admitir, ao mesmo tempo, que o jogo do Sr. Morphy qualifica aquele cavalheiro como um dos melhores jogadores do mundo. Teremos prazer em vê-lo enfrentar outros grandes jogadores europeus, a fim de que possa ficar provado quem é mais forte no jogo, o Velho ou o Novo Mundo. Acreditamos que o Sr. Morphy está disposto a desafiar todos os que se apresentarem. Há algo de extraordinariamente romântico e cavalheiresco neste jovem que vem à Europa e lança a luva a todos os nossos veteranos. Ele é sem dúvida um admirável Crichton do xadrez e, como o consumado escocês, ele é tão cortês e generoso quanto bravo e competente. Morphy sentia-se, naturalmente, muito ansioso por enfrentar Staunton num match. O último, porém, continuava tão cioso de sua reputação quanto sempre e, embora não recusasse abertamente jogar, sempre encontrava alguma razão para retardar a data do encontro. Staunton jogou com Lowenthal num forte torneio em Birminghan, apenas uma semana depois do término do match entre Morphy e Lowenthal. Este venceu o torneio, derrotando Staunton em partidas individuais. Como ele já havia reconhecido francamente Morphy como um jogador melhor, mesmo aqueles em cuja opinião Staunton era talvez o único homem adequado para enfrentar o americano mostravam-se agora dispostos a admitir que o campeão inglês provavelmente perderia a competição.Com efeito, diversos jogadores ingleses expressavam a opinião de que Staunton encontraria meios de fugir inteiramente ao encontro, como já fizera no caso de Saint-Amant. Essa previsão mostrou-se correta. Staunton recorreu a uma variedade de expedientes, insinuando mesmo que Morphy não tinha quem lhe fornecesse recursos para a bolsa de cinco mil libras que ele estipulara. Morphy depositou o dinheiro em um banco em Londres e enxadristas amadores ingleses, com sua proverbial lealdade esportiva chocada pelos métodos vergonhosos empregados por Staunton para fugir ao encontro, prontificaram-se a apoiar Morphy com 10.000 libras, se necessário, para levar Staunton a jogar. O campeão inglês disse que suas obrigações literárias não lhe permitiam encontrar tempo para o necessário treinamento e Morphy, desgostoso, partiu para a França. Foi acompanhado por F. M. Edge, um seu admirador inglês que se encontrava presente em Nova Iorque quando conquistara seus primeiros louros e que consentiu em servir como seu secretário durante sua estada em Paris, onde Morphy planejava jogar contra Harrwitz e Anderssen, os dois maiores jogadores do continente. Ia começar então uma aventura inesquecível !


continua...

PAUL MORPHY PARTE I



História Do Xadrez Moderno
Paul Morphy 1ª Parte


por Pedro Alcântara







Para muitos historiadores, a história do xadrez começa alguns séculos antes de Cristo. Como a tarefa de contar tantos séculos me parece um tanto quanto carente de escritos e muito resumida, me proponho a narrar uma história do Xadrez Moderno, que para mim começa com... PAUL MORPHY !!

Gênio é uma palavra muito bombástica; todavia se já houve jogador de xadrez a quem coubesse esse atributo, foi Paul Morphy. Nasceu em 1837 e sua aptidão precoce para o jogo foi bem cedo descoberta por seu pai, um juiz da Corte Suprema de Luisiana, que estava bem preparado para ensinar ao menino e que foi bastante inteligente para não permitir que o jogo interferisse em seus estudos. Até completar dezoito anos, o jovem Paul freqüentou a escola na Carolina do Sul e só jogava xadrez quando visitava Nova Orleãs durante as férias. Numa dessas visitas, fizeram-no enfrentar o conhecido mestre húngaro Joachim Lowenthal, residente em Londres. O menino de doze anos venceu duas partidas e empatou uma, sem perder nenhuma. É possível que o mestre tenha subestimado muito o menino e jogado aquém de sua capacidade, mas prognosticou francamente que seu jovem adversário chegaria a rivalizar-se com os mais fortes amadores vivos. Jamais poderia ter imaginado que nove anos mais tarde reconheceria Morphy como o maior mestre que já existira.


Quando Morphy tinha pouco mais de vinte anos, em 1857, realizou-se em Nova York um torneio de xadrez que assinalou o início das atividades enxadrísticas organizadas nos Estados Unidos e representou um acontecimento decisivo na carreira do jovem.


O Clube de Xadrez de Nova Iorque escrevera aos clubes de todos os outros Estados, sugerindo que cooperassem na realização do Primeiro Congresso Americano de Xadrez.Propôs que enviassem seus melhores jogadores para participarem de um torneio no qual seria decidido o campeonato de xadrez dos Estados Unidos. A reação foi entusiástica e de todas as regiões do país partiram candidatos ao título. Louis Paulsen, de Dubuque, Iowa, a quem os jornais da parte ocidental do país atribuíam tão espantosas performances de olhos vendados que os jogadores da parte oriental se sentiam inclinados a considerar como ficção, chegou bem antes da data marcada para o torneio. Através da seção de xadrez de um jornal, informou à comissão de Nova Iorque que assistira a duas ou tres partidas, disputadas por um jovem de Luisiana, que considerava dignas de serem incluídas entre as mais belas obras primas da história do xadrez. Todavia, ninguém deu as suas declarações maior crédito do que a seus feitos de olhos vendados, até serem confirmadas pelo Juiz Meek, de Alabama, um homem de reputação nacional, que espantou os nova-iorquinos ao dizer que vira Paul Morphy jogar e não tinha em sua mente a menor dúvida de que, se o jovem de Luisiana entrasse no torneio, conquistaria infalivelmente a palma da vitória.


Foi enviado um telegrama convidando Morphy a participar da competição e, como escreveu o Herald Tribune de Nova Iorque, "o destino benevolente trouxe o jovem herói em segurança até Nova Iorque dois dias antes da reunião do Congresso".


O primeiro adversário do rapaz foi James Thompson, um dos mais fortes jogadores de Nova Iorque, conhecido por seus ataques ousados e por sua pertinácia em fazer o "Gambito de Evans" sempre que tinha oportunidade. Morphy liquidou-o rapidamente.


O Juiz Meek, " um espécime de homem realmente imponente", foi o segundo adversário de Morphy. "Quando tomaram seus lugares um diante do outro", diz a notícia, "pensava-se em Davi e Golias. Não que o juiz fanfarronasse de qualquer modo como o alto filisteu, pois a modéstia adorna todas as suas ações; mas havia diferença em conteúdo cúbico entre os dois antagonistas , quanto entre o filho de Jesse e o touro de Gath, e em ambos os casos o pequeno mostrou-se o maior. O juiz Meek sentou-se com evidente convicção do resultado e, embora assegurasse ao seu jovem adversário que o poria no bolso se continuasse a derrotá-lo sem jamais dar-lhe a menor oportunidade, consolava-se com a reflexão de que Paul Morphy trataria todos os outros tal como tratara a ele".


Morphy correspondeu à expectativa em grande estilo. Foi coroado o "Campeão do Novo Mundo", depois de derrotar Paulsen no encontro final por uma contagem de 4 a 1. Até as finais, Paulsen igualara a contagem de Morphy, vencendo todas as partidas menos uma, que ficara empatada. Paulsen mostrou-se cheio de admiração pelo jogo de Morphy e declarou: "Se Anderssen e Staunton aqui estivessem, não teriam probabilidade alguma com Morphy; e ele derrotaria também Philidor e de la Bourdonnais , se estivessem vivos."


Naturalmente, Morphy estava ansioso por medir sua força com a dos mestres europeus e o Clube de Xadrez de Nova Orleãs declarou-se disposto a apoiá-lo com cinco mil dólares (muito dinheiro naquela época)num match com quem quer que se mostrasse disposto a aceitar o desafio. Sua família, depois de uma objeção inicial contra a interrupção de seus estudos de Direito, que uma viagem à Europa causaria, finalmente consentiu. E no verão de 1858 Morphy partiu para a Inglaterra.


continua...



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